terça-feira, 21 de junho de 2011

Cripto-nazis...

     Durante a Idade Média, era chamado Cripto-judeu aquele que, convertido formalmente ao catolicismo por força da lei, prosseguia em segredo, praticando seus ritos judaicos. Gosto do termo, porque mostra esse descompasso entre o que ESPERAM QUE SEJAMOS e o que DE FATO SOMOS EM NOSSOS MUNDOS OBSCUROS INTERIORES. No caso dos cripto-judeus, trata-se de criptói legais, porque é uma resistência contra a opressão e coisa e tal. Mas hoje estamos cercados de criptói de lógica perversa.
     ... Eles estão em toda parte. Eu sempre soube, embora por alguns momentos, eu tenha duvidado, admito. 
     A revelação íntima que tive me veio quando assistia aos extras de "Operação Valquíria", aquele filme com o Tom Cruise. Há um documentário ali que merece uma olhadela. Ele conta como foi a adequação da Alemanha ao pós-guerra, mas não no que tange aos estragos materiais e econômicos. Ele fala de como ficou a cabeça daquele alemão médio, tratando de uma dimensão que os historiadores gostam de chamar de "imaginário". E meu insight não é nada revelador para nenhum estudante de primeiro ano de um curso de História, mas, oras, eu sempre tive essa minha agilidade de pensamento avariada, que se pode fazer?
     A coisa consiste no seguinte: mudanças políticas acontecem em velocidades variáveis, mas, de maneira geral, são abruptas se comparadas às estruturas das mentalidades. Para escolares adolescentes: decretar uma lei não faz as pessoas acreditarem nos fundamentos daquela lei, lançar uma política de distribuição de renda não faz as pessoas acreditarem que é preciso ajudar os pobres e, definitivamente, anunciar ao  alemão médio do pós-guerra que agora não é mais pra ser nazista não funciona como uma fórmula mágica que faz dele um defensor das liberdades humanas básicas em um instante. 
     Transportemos o aprendizado para o Brasil. Não deveria ser segredo para ninguém que estamos elaborando nossa própria ideia nacional do que seja uma democracia. O que talvez seja segredo é que ESSA CONSTRUÇÃO ESTÁ LONGE DE SER UNANIMIDADE. Os brasileiros e brasileiras estão escondendo seus ódios e tolices retrógradas, conservadoras e absolutamente contrárias à proposta de uma ética universal simplesmente porque nos declaramos em um dado momento um país de ponta, liberal, democrático, tolerante e plural. Mas isso não faz de nós seres éticos e responsáveis. Simplesmente porque, como país, somos - além de hipócritas - uma base social perfeita para a proliferação da ignorância intencional, da desinformação dolosa e egoísta, da manutenção das violências e da rotina de opressões cotidianas que fingimos ignorar. Cripto-nazistas, cripto-fundamentalistas, cripto-oligarcas. Como eu disse, estão por toda parte.
        Se alguém ainda duvida, tenho cá provas e mais provas...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário